Grilos e mamíferos têm sistema auditivo parecido, diz pesquisa

Copiphora gorgonensis, grilo do Parque Natural Nacional Gorgona, na Colômbia

JOELMIR TAVARES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


A descoberta de um órgão auditivo não identificado anteriormente no ouvido de grilos da América do Sul pode ajudar nas pesquisas de sensores acústicos, incluindo tratamentos médicos.
Os grilos que vivem no Parque Nacional Gorgona, uma ilha do oceano Pacífico localizada na costa da Colômbia, têm uma vesícula auditiva, em formato de caracol, que transforma a energia acústica das ondas sonoras em energia mecânica, hidráulica e eletroquímica.
Nos mamíferos, esse papel é desempenhado por três ossinhos do ouvido médio (martelo, bigorna e estribo) e pela cóclea.
A pesquisa, com os resultados dos estudos sobre grilos da espécie Copiphora gorgonensis, será divulgada na edição desta sexta-feira (16) da revista “Science”.
Os resultados do estudo, feito nas universidades de Bristol e Lincoln, no Reino Unido, são a peça que faltava no quebra-cabeça para compreender o processo de transformação de energia nos ouvidos desses animais.
Os autores do estudo também concluíram que o sistema de audição dos insetos, em três etapas, é mais parecido com o dos mamíferos do que se imaginava.
Nos mamíferos, as ondas sonoras fazem o tímpano vibrar. Depois, os três ossículos amplificam as vibrações, o que faz com que elas viajem através de um fluido na cóclea.
Por fim, células ciliadas do ouvido interno convertem as ondas sonoras em impulsos elétricos, que transportam a informação para o cérebro.
No caso dos insetos, não se sabia como os vários órgãos se conectam para permitir que os bichos ouçam.
Preenchida por um fluido, a vesícula auditiva dos insetos contém uma rede de receptores sensoriais. Os cientistas acreditavam antes que só os vertebrados tinham um processo tão eficiente de conversão de vibrações sonoras.
EVOLUÇÃO CONVERGENTE
A descoberta das semelhanças entre os sistemas auditivos surpreende principalmente pelas diferenças entre os organismos de insetos e mamíferos e seus processos de evolução.
As quatro “orelhas” dos grilos estudados, por exemplo, ficam localizadas nas duas patas dianteiras e são partes minúsculas de seus órgãos auditivos. Elas podem detectar sons a longas distâncias.
O estudo pode ajudar na criação de novas tecnologias em pesquisas sobre sensores acústicos, já que, assim como os humanos, os grilos também têm uma audição muito sensível.
O conhecimento sobre esse nível de sofisticação e funcionalidade da audição do inseto deverá ser útil para a engenharia de sistemas bioinspirados.
O principal responsável pela descoberta, Fernando Montealegre-Zapata, cresceu na Colômbia e, muito cedo, desenvolveu interesse em insetos, especialmente grilos. Ele decidiu estudar entomologia e focou seus trabalhos em acústica, biomecânica e biologia sensorial.
“As descobertas mudam nossa visão sobre a audição dos insetos. Temos certeza de que a hipersensibilidade auditiva da espécie vem da vesícula que detectamos”, afirmou Montealegre-Zapata.
Para outro pesquisador da equipe, Daniel Robert, ter uma audição aguçada, no caso dos grilos colombianos, pode significar a diferença entre a vida e a morte.
“Na cacofonia de seu ambiente de floresta tropical, é crucial para esses bichos distinguir entre um coro de sons de insetos e os ultrassons dos morcegos que os caçam”, disse.
 

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